Monday, March 2, 2015

NOITE DA GRANDE PAZ, DA GRANDE PAZ DOS TEUS OLHOS



Noite da grande paz, da grande paz dos teus olhos (Jorge Amado in"Capitães da Areia")




Os Olhos, Os Olhos Esta é a magia que pode estar por trás da decantada boniteza de Chico Buarque. O JB ouviu especialistas neste assunto - beleza - e a conclusão mais comum é que tudo começa no olhar. O maestro Tom Jobim o definia assim: ''Chico tem olhos de gatão selvagem, dos grandes gatos do mato, olhos glaucos, iluminados''.
Existe certa confusão no que diz respeito a cor dos olhos do artista. Em algumas fotos, eles parecem verdes. Noutras, azuis. Noutras, muito azuis - em algumas revistas, fica patente o cuidado especial para o tratamento fotográfico e a reforçada na cor. Na ficha que a polícia elaborou quando Chico, na adolescência, puxou um automóvel, está escrito que seus olhos têm cor de ardósia, a pedra tão usada em decoração de ambientes.
O cirurgião plástico Carlos Fernando Gomes de Almeida observa que os olhos claros de Chico são um ''atrativo a mais'' num país latino, como o Brasil. Mas diz que não é possível julgar-se a beleza física, pura e simplesmente: ''Cada pessoa é um pacote''. Para Carlos Fernando, Chico é um homem ''bonito, harmonicamente interessante e muito sensível''. Até mais que isso: seus olhos azuis e sua verve poética e aura romântica lhe garantiriam a adjetivação de ''quase um anjo sexual''. A dermatologista Paula Bellotti é taxativa na sua opinião. Chico Buarque é bonito porque tem ''cara de homem''.

O cirurgião plástico mais renomado do país, Ivo Pitanguy, também falou ao JB sobre a beleza de Chico Buarque. Na entrevista, o médico teve acesso a duas dúzias de fotos, retiradas do arquivo do jornal, retratando várias fases da vida do artista. O menino quase imberbe, cara de bom-moço, que cantava A banda e que na época tornou-se o genro mais desejado do país. O adulto politizado, com vasto bigode e pose de brigão, visual dos anos 70, época de uma bochecha saliente, entregando os quilinhos a mais. O homem maduro, que nos anos 80 e 90 voltou a se apresentar em público e fazer shows com mais freqüência. E o senhor que, agora, ainda esguio, vai chegando próximo da terceira idade.

Remexendo nas fotos, analisando rosto e condição corporal de Chico, Pitanguy conclui sem pestanejar: ''Ele está envelhecendo bem. Parece uma pessoa que está ok consigo mesma, em paz com a sua imagem''. Mas não crava na questão sobre a cor dos olhos. ''Não sei direito qual é. Ela pode variar de acordo com a luz. Mas é uma cor bonita, isso dá para garantir''.

Assim como Pitanguy, Carlos Fernando Gomes de Almeida e Paula Bellotti também puderam observar algumas fotos de Chico. O JB propôs um teste a eles. Teriam que organizá-las em ordem cronológica. Todos acertaram - com exceção de uma foto, que costuma pregar peças mesmo em quem está acostumado a lidar com expressões faciais. É justamente a fotografia que ilustra a capa do disco lançado em 1989, que tem como primeira faixa Morro Dois Irmãos. Ali, todos concordam, Chico parece ter algo em torno de 35 anos, e não 45 - como de fato tinha. A foto, feita num estúdio de gravação, é de autoria de Antônio Augusto Fontes. Semana passada, ele falou ao JB. Lembra ter usado luz natural, sem rebatedor e filme tipo tri-x, preto-e-branco. Fotografava com uma Pentax. ''A foto ficou boa porque Chico estava sossegado, relaxado'', arrisca Antônio Augusto. ''Acho que captei sua alma de crian
ça'', completa, informando ainda que Chico escolheu justo ele para fotografá-lo durante os ensaios no estúdio porque Antônio Augusto é ''silencioso''. Assim, meio que ''desaparecia'' do ambiente, deixando todos mais à vontade. A mansidão do artista é mesmo fato notório. Pitanguy parece encerrar o debate com uma frase lapidar: ''Enquanto Chico não tiver rugas na alma, ele estará bem''.


(Lula Branco Martins E Andrea Thompson) 


CAETANO VELOSO : Uma moça simpática, entrevistando-me para a revista InTerValo (com T e o V maiúsculos indicavam ser uma publicação especializada em televisão), perguntou-me como eu via a diferença entre mim e Chico. Eu, estimulado pela oportunidade - e crendo que minha "aula" ia ser publicada -, expliquei-lhe que o que eu fazia era expor o aspecto de mercadoria do cantor de TV. «Que tanto eu quanto Chico estávamos dizendo muitas coisas com nossas canções, mas que, do ponto de vista da televisão, eu era um cara de cabelo grande e «Chico um rapaz bonito de olhos verdes»; e que quanto mais desmascarado estivesse esse jogo, mais nossas canções e nossas pessoas estariam livres. Poucos dias depois saiu a reportagem com minha declaração sumária de que "Chico Buarque não passa de um belo rapaz de olhos verdes".

(Sidney Garambone - 11/11/98)




Os velhos olhos verdes. Ou azuis? Sem que haja um consenso sobre a real cor de seus olhos, o compositor Chico Buarque admite que seu futuro é a literatura e garante que suas músicas estão cada vez melhores. Aos 54 anos, ironiza a velhice que se aproxima enquanto se prepara para ser avô pela segunda vez.De Chico Buarque, todo brasileiro sabe pelo menos uma música. Ou duas. Ou três. Ou um punhado. Sabe também que sua principal marca é a timidez. Depois, obviamente, dos profundos olhos verdes. Ou não seriam azuis? 

Seu empresário Vinícius França não tem dúvidas. "Os olhos dele são verdes." Mesma opinião da filha Sílvia Buarque. O cineasta Bruno Fernandes, marido de Sílvia, rebate. "Claro que são azuis." A ex-mulher Marieta Severo é categórica. "São verdes." Mais detalhista, a irmã Miúcha fica em cima do muro. "Nem um nem outro. São os dois. Se ele bota uma camisa azul, os olhos ficam azuis." Para atiçar a polêmica cromática, Miúcha traz à baila uma confusão histórica a respeito do tema. "Quando Chico tinha 17 anos e foi preso, o escrivão, também na dúvida, cravou olhos cor de ardósia." Chico, claro, mantém a discrição, o enigma e o charme. E vota   em branco. "Não sei se é verde ou azul." Alheio às especulações, ele surpreende com mais um álbum, coisa cada vez mais rara em sua discografia de 32 trabalhos. Na capa de As cidades, do artista gráfico e cenógrafo Gringo Cardia, aparece como negro, japonês, índio, loiro e mestiço. Suas inquietações também são variadas.

" Nem um nem outro. São os dois"..."olhos cor de ardósia"


Quantas coisas cabem num olhar? É tão expressivo, é como falar...o Olhar das memórias vêem muito mais do que o nosso olhar...
  

Tem coisa mais linda que um olhar? Sincero, revelador, provocante, tímido, que suplicam, agradecem e sorriem? 
Deve-se a "Olê, olá" o estilo inconfundível do programa Ensaio da TV Cultura de São Paulo. Convidado por Fernando Faro, não havia meio de fazer o cantor olhar para a frente, o que obrigou o diretor a colocar uma câmara no chão a fim de mostrar o rosto e os olhos cada vez mais famosos...

(In "Chico Buarque - Wagner Homem")