(Escrito
por: Norma Nascimento)
No auge da sua vida aos 66 anos, Marieta Severo se mantêm como uma mulher linda, talentosa e guerreira. Em entrevista, a atriz falou sobre como é encarar a chegada da idade mais avançada. Ela falou sobre sua vida em família, sobre Chico Buarque.“O casamento da minha vida foi esse, com o Chico. Eu não tenho mais necessidade de morar junto, de acordar todo dia ao lado de alguém. Eu tenho uma vida muito intensa, uma família que é muito presente, eu gosto dos meus domingos aqui na minha casa, com as minhas filhas, os netos e "o Chico."
Com certeza, Marieta está super segura sobre a sua vida e o seu papel de mulher
e a passagem do tempo. A velhice que se aproxima parece ser um incentivo até
maior para o seu crescimento intelectual.
“Vejo tanta gente preocupada em colocar Botox na testa, eu queria
poder colocar Botox no cérebro. Tenho verdadeiro pavor de perder a
capacidade mental, é isso o que mais me assusta quando penso na velhice. Quero
ser uma atriz velha com capacidade de decorar um texto, quero ser lúcida na
vida e na família.”, confessa.
Arrasou!
No auge da sua vida aos 66 anos, Marieta Severo se mantêm como uma mulher linda, talentosa e guerreira. Em entrevista, a atriz falou sobre como é encarar a chegada da idade mais avançada. Ela falou sobre sua vida em família, sobre Chico Buarque.“O casamento da minha vida foi esse, com o Chico. Eu não tenho mais necessidade de morar junto, de acordar todo dia ao lado de alguém. Eu tenho uma vida muito intensa, uma família que é muito presente, eu gosto dos meus domingos aqui na minha casa, com as minhas filhas, os netos e "o Chico."
Com certeza, Marieta está super segura sobre a sua vida e o seu papel de mulher e a passagem do tempo. A velhice que se aproxima parece ser um incentivo até maior para o seu crescimento intelectual.
“Vejo tanta gente preocupada em colocar Botox na testa, eu queria poder colocar Botox no cérebro. Tenho verdadeiro pavor de perder a capacidade mental, é isso o que mais me assusta quando penso na velhice. Quero ser uma atriz velha com capacidade de decorar um texto, quero ser lúcida na vida e na família.”, confessa.
Arrasou!
Com quase 50 anos de carreira, a artista que
alcançou sucesso no teatro, no cinema e na televisão, se declara feminista (sem
militância) e revela detalhes do casamento com Chico Buarque, com quem viveu por
30 anos e teve três filhas.
Armando Antenore - Edição: MdeMulher)
Com quase 50 anos de carreira, a artista que
alcançou sucesso no teatro, no cinema e na televisão, se declara feminista (sem
militância) e revela detalhes do casamento com Chico Buarque, com quem viveu por
30 anos e teve três filhas.
Armando Antenore - Edição: MdeMulher)
Armando Antenore - Edição: MdeMulher)
Pressionado pela ditadura, o compositor Chico Buarque, seu marido à
época, se exilou na Itália em janeiro de 1969. Você o acompanhou e permaneceu
por lá até março de 1970. Que recordações guarda daquele período?
Eu
me recordo de ter ficado muito apavorada. Acabara de completar 22 anos, e o
exílio me pegou de surpresa. Viajamos à Europa com a intenção de retornar logo,
dentro de uns 20 dias. Chico participaria de uma feira musical em Cannes, na
França, e depois seguiríamos para Roma. Foi quando nos chegaram recados do
Gilberto Gil e do Caetano Veloso, que se encontravam presos no Brasil: "Não
voltem!" Falavam que, se voltássemos, o Chico iria diretamente do aeroporto para
o xadrez. Tínhamos as roupas do corpo, umas tantas nas malas e nada mais. Mesmo
grávida de minha primeira filha, a Silvinha, perdi 8 quilos em dois meses!
Precisei arranjar ginecologista às pressas e fiz curso de gestante em italiano,
língua que mal arranhava.
Quando vocês retornaram, o medo persistiu?
Persistiu
porque recebíamos ameaças constantemente. Todo fim de ano, nos enviavam cartões
com advertências do gênero: "Chico será o próximo". Certa manhã, enquanto
dormíamos em nosso apartamento, na Lagoa (bairro da zona sul carioca), a polícia
o invadiu e agarrou o Chico. Me lembro também de sentir o coração apertado toda
vez que o Chico saía com nossas três filhas, ainda pequenas. Eu os observava da
varanda e pensava: "Ai, meu Deus..." Temia que colocassem uma bomba no carro da
família, sei lá. Mesmo assim, não os impedia de passear juntos. Procurava tocar
a vida sem paranoias excessivas e sem transmitir minhas angústias para as
meninas. Tentava agir como se nada daquilo existisse.
Você já militou politicamente?
Não, nunca ingressei em
sindicatos, partidos ou algo que o valha. Mas sempre me posicionei. Costumávamos
discutir política em casa. Embora não seja nenhuma estudiosa da área,
interessei-me pelo assunto desde cedo. Digamos que faço o mínimo: acompanho o
noticiário e busco me manter informada sobre o que se passa no Brasil. Claro
que, logo após o golpe de 1964, participei mais ativamente de assembleias e
passeatas. Muitos jovens da época participavam, ainda que não se engajassem
nesta ou naquela sigla. A política se confundia com a rotina da gente.
Em 1964, já trabalhava como atriz?
Estava terminando o
curso de normalista e estudava teatro no Tablado (célebre escola do Rio).
Estreei profissionalmente um pouco depois, em 1965. Tinha 18 anos e imaginava
que, sendo atriz, mudaria o mundo (risos). Veja quanto a política nos
influenciava.
(Foto: José Antonio)
Você se considera feminista?
Talvez me considere, mas uma
feminista sem militância. Me esforcei desesperadamente para continuar
trabalhando fora enquanto criava as meninas. Minha mãe, típica dona de casa, não
me compreendia direito. Eu, na realidade, adorava aquela correria. Faço parte de
uma geração e de um "gueto" - a Ipanema dos anos 1960 e 1970 - que se guiavam
por uma palavrinha mágica: "experimental". Tínhamos de experimentar, de inovar,
de mudar os costumes. Questionávamos tudo: a escola das crianças, o próprio
casamento, a obrigação de botar uns saiotes tenebrosos sobre o biquíni quando
engravidávamos.
Saiotes?
Saiotes! Grávidas não podiam exibir a barriga na
praia. Então punham saiotes em cima do biquíni para cobri-la. Eu me negava
àquela humilhação (risos). Leila Diniz, minha amiga querida, também (ícone da
emancipação feminina, a atriz niteroiense conheceu Marieta em 1966 e morreu em
1972, com apenas 27 anos). Uma ocasião, a fotografaram no mar, grávida e de
biquíni, mas sem saiote. Foi um escândalo! Como nós duas sempre quisemos
filhos, nos projetávamos morando juntas numa comunidade alternativa, repleta de
crianças. Bastávamos nós e os bebês (risos).
Vocês imaginavam ter filhos sem se casar?
Imaginávamos!
Só que acabei me casando com o Chico e permaneci assim por três décadas. Uma
relação que fluiu muito bem, aliás.
Era um casamento aberto - ou experimental, para usar o termo da sua
geração?
(Risos) Não, vivi meu casamento da maneira tradicional.
Chico dividia as tarefas domésticas com você? Trocava fralda das
meninas, por exemplo?
Você quer saber se o Chico trocava fralda?!
Que deselegante! (risos) Eram outros tempos, malandro!

Os homens só se
conscientizaram de que tinham de assumir novos papéis na família depois de as
mulheres encherem bastante o saco deles. De fato, a gente se sobrecarregava à
beça, nos sentíamos na obrigação de atender a todas as demandas. Enquanto
pipocávamos feito malucas, de lá para cá, os homens se mantinham quase que
exclusivamente presos às funções masculinas mais convencionais.
Resumindo: Chico não trocava fralda.
Não trocava. Mas
buscou muita criança em festinhas de aniversário (risos).
(Entrevista publicada em novembro de 2013 na revista CLAUDIA.)
Marieta Severo e Chico Buarque se conheceram quando ela
trabalhava no espetáculo "O Bicho", em 1966.
(Arquivo pessoal - Divulgação/ Arquivo iG)

"Aquela esperança de tudo se ajeitar? Pode esquecer." Chico Buarque "
- "O Chico é o meu melhor amigo, a primeira pessoa com quem
vou falar numa situação difícil."
- Marieta
Severo, atriz, em entrevista na qual admite que ainda possui conta conjunta com
o ex-marido Chico Buarque
(- Fonte:
Revista ISTOÉ Gente, edição
275 - 15/11/2004)
A entrevista poderia ter sido uma catástrofe, a pior
entrevista da história das entrevistas: que tipo de repórter idiota perguntaria
a Marieta Severo se é verdade que ela ainda tem conta conjunta com o ex-marido
Chico Buarque?
Eu, que fui gentilmente convidada pela própria
Marieta a entrar em sua sala, puxada pela anfitriã pelo braço para ver a
espetacular vista da varanda de sua casa na Gávea – com direito a Rocinha, Lagoa
e muito mais. Eu, que fui por ela servida de café e salgadinhos e sentei em seu
sofá, de frente para vários porta-retratos onde se eternizam momentos-família
dos Severo-Buarque de Holanda: Marieta, Chico, as três filhas (Silvia, 35,
Helena, 33, e Luísa, 29) e os três netos (Francisco, 8, e Clara, 6 – de Helena
–, e Lia, 2, de Luísa). Eu, que sei tão bem quanto você que Marieta não é dada a
entrevistas, que gosta de preservar sua vida pessoal, que não aceita falar de
intimidades e, sobretudo, que odeia falar publicamente de Chico – isso, mesmo
quando eram casados.
Acontece que um dos pré-requisitos do bom jornalismo
é perguntar tudo o que for relevante para que o leitor possa entender melhor
quem está sendo retratado. É preciso fazer o entrevistado se sentir à vontade e
só aí entrar em áreas desconfortáveis e dar o bote que diferencia grandes
entrevistas das café-com-leite. Quando o papo está uma delícia, como era o caso,
fazer isso é ainda mais difícil.
Marieta Severo da Costa, 58 anos, é uma
de nossas melhores e mais prolíficas atrizes. São mais de 30 filmes, seis
novelas e 50 peças, sem contar sua participação como dona Nenê no seriado global
A Grande Família. Nasceu em família de classe média e tradicional, em 2 de
novembro de 1946. Como qualquer garota de sua época, vivia na praia, estatelada
ao sol. Como poucas garotas de sua época, tinha Antônio Pitanga como companheiro
de frescobol. E se acabava de dançar ao lado de Nelson Motta, Edu Lobo, Dori
Caymmi, Leila Diniz – todos adolescentes ainda virgens de fama. A vida seguia em
ritmo de sol, mar, banquinho e violão até que Marieta, que aos 18 anos cursava
magistério para virar professora primária, entrou por acaso no Tablado (escola
de teatro) durante o ensaio de uma peça e ficou encantada com a arte de
representar. Convenceu o pai, um desembargador mineiro muito sério, de que ser
atriz era uma profissão como outra qualquer e foi à luta.
Não tivesse
ela entrado no teatro naquele dia, certamente não teria conhecido o homem de sua
vida: Chico Buarque, que, em 1966, aos 22 anos, foi levado pelo amigo Hugo
Carvana para assistir a uma peça de Marieta e ficou maravilhado com a morena que
viu no palco. Esperou uns dias e voltou, dessa vez trazendo um vaso de flores
nas mãos.
Recém-saída de um primeiro e brevíssimo casamento, Marieta foi
morar com Chico pouco tempo depois, e a união durou 30 anos. Construíram uma
tradicional vida familiar, com direito a almoço de domingo, buscar criança no
colégio e passar a noite em claro porque uma das meninas estava com febre. Eram
uma bolha de caretice em meio à efervescência da época. Não que eles não
apoiassem todos os movimentos experimentais, mas, como lembra Marieta, ela tinha
que acordar cedo no dia seguinte. Agora está sozinha, pela primeira vez na vida.
A separação, emboradoída, foi muito bem resolvida por ambos, que são hoje
grandes amigos.
A entrevista a seguir toca em assuntos da vida de Marieta
sobre os quais ela se sente pouco confortável falando. Mesmo assim, em nenhum
momento fez cara feia. Nem mesmo quando indaguei sobre a tal conta conjunta.
Nessa hora, rindo com aquele eterno jeito de moleca, Marieta simplesmente disse:
“Ah, não faz isso, vai. A gente tava indo tão bem”. Como o compromisso com o bom
jornalismo vem acima da vontade de agradar quem se admira, vai aqui a resposta:
sim, Marieta e Chico dividem talões até
hoje.
())revista Tpm)

Pressionado pela ditadura, o compositor Chico Buarque, seu marido à
época, se exilou na Itália em janeiro de 1969. Você o acompanhou e permaneceu
por lá até março de 1970. Que recordações guarda daquele período?
Eu me recordo de ter ficado muito apavorada. Acabara de completar 22 anos, e o exílio me pegou de surpresa. Viajamos à Europa com a intenção de retornar logo, dentro de uns 20 dias. Chico participaria de uma feira musical em Cannes, na França, e depois seguiríamos para Roma. Foi quando nos chegaram recados do Gilberto Gil e do Caetano Veloso, que se encontravam presos no Brasil: "Não voltem!" Falavam que, se voltássemos, o Chico iria diretamente do aeroporto para o xadrez. Tínhamos as roupas do corpo, umas tantas nas malas e nada mais. Mesmo grávida de minha primeira filha, a Silvinha, perdi 8 quilos em dois meses! Precisei arranjar ginecologista às pressas e fiz curso de gestante em italiano, língua que mal arranhava.
Quando vocês retornaram, o medo persistiu?
Persistiu porque recebíamos ameaças constantemente. Todo fim de ano, nos enviavam cartões com advertências do gênero: "Chico será o próximo". Certa manhã, enquanto dormíamos em nosso apartamento, na Lagoa (bairro da zona sul carioca), a polícia o invadiu e agarrou o Chico. Me lembro também de sentir o coração apertado toda vez que o Chico saía com nossas três filhas, ainda pequenas. Eu os observava da varanda e pensava: "Ai, meu Deus..." Temia que colocassem uma bomba no carro da família, sei lá. Mesmo assim, não os impedia de passear juntos. Procurava tocar a vida sem paranoias excessivas e sem transmitir minhas angústias para as meninas. Tentava agir como se nada daquilo existisse.
Você já militou politicamente?
Não, nunca ingressei em sindicatos, partidos ou algo que o valha. Mas sempre me posicionei. Costumávamos discutir política em casa. Embora não seja nenhuma estudiosa da área, interessei-me pelo assunto desde cedo. Digamos que faço o mínimo: acompanho o noticiário e busco me manter informada sobre o que se passa no Brasil. Claro que, logo após o golpe de 1964, participei mais ativamente de assembleias e passeatas. Muitos jovens da época participavam, ainda que não se engajassem nesta ou naquela sigla. A política se confundia com a rotina da gente.
Em 1964, já trabalhava como atriz?
Estava terminando o curso de normalista e estudava teatro no Tablado (célebre escola do Rio). Estreei profissionalmente um pouco depois, em 1965. Tinha 18 anos e imaginava que, sendo atriz, mudaria o mundo (risos). Veja quanto a política nos influenciava.
(Foto: José Antonio)
Você se considera feminista?
Talvez me considere, mas uma feminista sem militância. Me esforcei desesperadamente para continuar trabalhando fora enquanto criava as meninas. Minha mãe, típica dona de casa, não me compreendia direito. Eu, na realidade, adorava aquela correria. Faço parte de uma geração e de um "gueto" - a Ipanema dos anos 1960 e 1970 - que se guiavam por uma palavrinha mágica: "experimental". Tínhamos de experimentar, de inovar, de mudar os costumes. Questionávamos tudo: a escola das crianças, o próprio casamento, a obrigação de botar uns saiotes tenebrosos sobre o biquíni quando engravidávamos.
Saiotes?
Saiotes! Grávidas não podiam exibir a barriga na praia. Então punham saiotes em cima do biquíni para cobri-la. Eu me negava àquela humilhação (risos). Leila Diniz, minha amiga querida, também (ícone da emancipação feminina, a atriz niteroiense conheceu Marieta em 1966 e morreu em 1972, com apenas 27 anos). Uma ocasião, a fotografaram no mar, grávida e de biquíni, mas sem saiote. Foi um escândalo! Como nós duas sempre quisemos filhos, nos projetávamos morando juntas numa comunidade alternativa, repleta de crianças. Bastávamos nós e os bebês (risos).
Vocês imaginavam ter filhos sem se casar?
Imaginávamos! Só que acabei me casando com o Chico e permaneci assim por três décadas. Uma relação que fluiu muito bem, aliás.
Era um casamento aberto - ou experimental, para usar o termo da sua geração?
(Risos) Não, vivi meu casamento da maneira tradicional.
Chico dividia as tarefas domésticas com você? Trocava fralda das meninas, por exemplo?
Você quer saber se o Chico trocava fralda?! Que deselegante! (risos) Eram outros tempos, malandro!

Os homens só se conscientizaram de que tinham de assumir novos papéis na família depois de as mulheres encherem bastante o saco deles. De fato, a gente se sobrecarregava à beça, nos sentíamos na obrigação de atender a todas as demandas. Enquanto pipocávamos feito malucas, de lá para cá, os homens se mantinham quase que exclusivamente presos às funções masculinas mais convencionais.
Resumindo: Chico não trocava fralda.
Não trocava. Mas buscou muita criança em festinhas de aniversário (risos).
(Entrevista publicada em novembro de 2013 na revista CLAUDIA.)
Eu me recordo de ter ficado muito apavorada. Acabara de completar 22 anos, e o exílio me pegou de surpresa. Viajamos à Europa com a intenção de retornar logo, dentro de uns 20 dias. Chico participaria de uma feira musical em Cannes, na França, e depois seguiríamos para Roma. Foi quando nos chegaram recados do Gilberto Gil e do Caetano Veloso, que se encontravam presos no Brasil: "Não voltem!" Falavam que, se voltássemos, o Chico iria diretamente do aeroporto para o xadrez. Tínhamos as roupas do corpo, umas tantas nas malas e nada mais. Mesmo grávida de minha primeira filha, a Silvinha, perdi 8 quilos em dois meses! Precisei arranjar ginecologista às pressas e fiz curso de gestante em italiano, língua que mal arranhava.
Quando vocês retornaram, o medo persistiu?
Persistiu porque recebíamos ameaças constantemente. Todo fim de ano, nos enviavam cartões com advertências do gênero: "Chico será o próximo". Certa manhã, enquanto dormíamos em nosso apartamento, na Lagoa (bairro da zona sul carioca), a polícia o invadiu e agarrou o Chico. Me lembro também de sentir o coração apertado toda vez que o Chico saía com nossas três filhas, ainda pequenas. Eu os observava da varanda e pensava: "Ai, meu Deus..." Temia que colocassem uma bomba no carro da família, sei lá. Mesmo assim, não os impedia de passear juntos. Procurava tocar a vida sem paranoias excessivas e sem transmitir minhas angústias para as meninas. Tentava agir como se nada daquilo existisse.
Você já militou politicamente?
Não, nunca ingressei em sindicatos, partidos ou algo que o valha. Mas sempre me posicionei. Costumávamos discutir política em casa. Embora não seja nenhuma estudiosa da área, interessei-me pelo assunto desde cedo. Digamos que faço o mínimo: acompanho o noticiário e busco me manter informada sobre o que se passa no Brasil. Claro que, logo após o golpe de 1964, participei mais ativamente de assembleias e passeatas. Muitos jovens da época participavam, ainda que não se engajassem nesta ou naquela sigla. A política se confundia com a rotina da gente.
Em 1964, já trabalhava como atriz?
Estava terminando o curso de normalista e estudava teatro no Tablado (célebre escola do Rio). Estreei profissionalmente um pouco depois, em 1965. Tinha 18 anos e imaginava que, sendo atriz, mudaria o mundo (risos). Veja quanto a política nos influenciava.
(Foto: José Antonio)
Talvez me considere, mas uma feminista sem militância. Me esforcei desesperadamente para continuar trabalhando fora enquanto criava as meninas. Minha mãe, típica dona de casa, não me compreendia direito. Eu, na realidade, adorava aquela correria. Faço parte de uma geração e de um "gueto" - a Ipanema dos anos 1960 e 1970 - que se guiavam por uma palavrinha mágica: "experimental". Tínhamos de experimentar, de inovar, de mudar os costumes. Questionávamos tudo: a escola das crianças, o próprio casamento, a obrigação de botar uns saiotes tenebrosos sobre o biquíni quando engravidávamos.
Saiotes?
Saiotes! Grávidas não podiam exibir a barriga na praia. Então punham saiotes em cima do biquíni para cobri-la. Eu me negava àquela humilhação (risos). Leila Diniz, minha amiga querida, também (ícone da emancipação feminina, a atriz niteroiense conheceu Marieta em 1966 e morreu em 1972, com apenas 27 anos). Uma ocasião, a fotografaram no mar, grávida e de biquíni, mas sem saiote. Foi um escândalo! Como nós duas sempre quisemos filhos, nos projetávamos morando juntas numa comunidade alternativa, repleta de crianças. Bastávamos nós e os bebês (risos).
Vocês imaginavam ter filhos sem se casar?
Imaginávamos! Só que acabei me casando com o Chico e permaneci assim por três décadas. Uma relação que fluiu muito bem, aliás.
Era um casamento aberto - ou experimental, para usar o termo da sua geração?
(Risos) Não, vivi meu casamento da maneira tradicional.
Chico dividia as tarefas domésticas com você? Trocava fralda das meninas, por exemplo?
Você quer saber se o Chico trocava fralda?! Que deselegante! (risos) Eram outros tempos, malandro!

Os homens só se conscientizaram de que tinham de assumir novos papéis na família depois de as mulheres encherem bastante o saco deles. De fato, a gente se sobrecarregava à beça, nos sentíamos na obrigação de atender a todas as demandas. Enquanto pipocávamos feito malucas, de lá para cá, os homens se mantinham quase que exclusivamente presos às funções masculinas mais convencionais.
Resumindo: Chico não trocava fralda.
Não trocava. Mas buscou muita criança em festinhas de aniversário (risos).
(Entrevista publicada em novembro de 2013 na revista CLAUDIA.)
Marieta Severo e Chico Buarque se conheceram quando ela
trabalhava no espetáculo "O Bicho", em 1966.
- "O Chico é o meu melhor amigo, a primeira pessoa com quem vou falar numa situação difícil."

"Aquela esperança de tudo se ajeitar? Pode esquecer." Chico Buarque "
"Aquela esperança de tudo se ajeitar? Pode esquecer." Chico Buarque "
- Marieta
Severo, atriz, em entrevista na qual admite que ainda possui conta conjunta com
o ex-marido Chico Buarque
(- Fonte:
Revista ISTOÉ Gente, edição
275 - 15/11/2004)
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Marieta Severo dispara: “Por causa de Chico Buarque, aprendi a parar para ouvir música”

O casamento de Marieta Severo e Chico Buarque pode não ter dado certo, mas com certeza acrescentou algo na vida dos artistas. Afinal de contas, sempre há algo bom para tirar de uma relação a dois, não é mesmo?
Em entrevista à apresentadora Sarah Oliveira no programa “Viva Voz”, a atriz contou que seu ex-marido lhe
ensinou a deixar de fazer algumas coisas para apreciar a música com mais
atenção.
Ao relembrar o tempo em que estiveram juntos, a global disparou: “A música em
casa atrapalhava ele. Bom, por causa dele, aprendi a parar para ouvir
música.”
Ao relembrar o tempo em que estiveram juntos, a global disparou: “A música em casa atrapalhava ele. Bom, por causa dele, aprendi a parar para ouvir música.”

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