Sunday, April 19, 2015

NARA

NARA

O talento discreto e silencioso de Nara



  • “Sou a mulher mais corajosa que conheço. Na intimidade, podem me chamar de Nara Coração de Leão.”
    Nara Leão



A estreia profissional se deu quando da participação, ao lado de Vinícius de Moraes e Carlos Lyra, na comédia Pobre Menina Rica (1963). O título de musa da Bossa Nova foi a ela creditado pelo cronista Sérgio Porto. Mas a consagração efetiva ocorre após o golpe militar de 1964, com a apresentação do espetáculo Opinião, ao lado de João do Vale e Zé Keti, um espetáculo de crítica social à dura repressão imposta pelo regime militarMaria Bethânia, por sua vez, a substituiria no ano seguinte, interpretando Carcará, pois Nara precisara se afastar por estar afônica. Nota-se que Nara Leão vai mudando suas preferências musicais ao longo dos anos 1960. De musa da Bossa Nova, passa a ser cantora de protesto e simpatizante das atividades dos Centros Populares de Cultura da UNE. Embora os CPCs já tivessem sido extintos pela ditadura, em 1964, o espetáculo Opinião tem forte influência do espírito cetiscista.



Em 1966, interpretou a canção A Banda, de Chico Buarque no Festival de Música Popular Brasileira (TV Record), que ganhou o festival e 
público brasileiro.







E entre as suas interpretações mais conhecidas, destacam-se O barquinho, A Banda e Com Açúcar e com Afeto -- feita a seu pedido por Chico Buarque, cantor e compositor a quem homenagearia nesse disco homônimo, lançado em 1980.

A BANDA 

Contou com a adesão imediata de companheiros do tempo da bossa nova: Tom Jobim, João Donato, Roberto Menescal, Carlos Lyra. Edu Lobo lembrou com a anfitriã os tempos em que ambos eram cantores de protesto, e Chico Buarque trouxe nada menos que a hoje clássica João e Maria. Enfeitou o disco com as flautas de J.T. Meirelles, sumidade do samba-jazz e arranjador do disco de estreia de Jorge Ben.









"Sempre cantei o que me interessa. Menos na televisão. A televisão engole a gente; se a gente não toma cuidado, passa de cantora a vedete."



“Podem me prender/ Podem me bater/ Podem até deixar-me sem

comer/ Que eu não mudo de opinião/ Daqui do morro eu não saio, 

não.”




De mal com a bossa, Nara se convertera em antiexemplo daquilo que a leveza ensolarada de Tom e João preconizava. Tinha virado uma cantora de protesto, uma folk singer nos moldes da norte-americana Joan Baez, preocupada com as dores do povo, a seca e a fome no Nordeste, a pobreza nos morros cariocas. Ao longo de sete LPs individuais preparados em quatro anos, liderou a corrente nacional-participante da música nacional – a recém-batizada MPB. Nessa fase, gravou uma galeria formidável de compositores, que causaria timidez no elenco colorido de Meus Amigos São um Barato.




Do húmus do samba carioca, resgatou autores que andavam recolhidos ao quase-anonimato: Cartola, Nelson Cavaquinho, Guilherme de Brito, Padeirinho (autor da plangente "Favela", quando as favelas estavam longe de ser a enormidade que são hoje), Monsueto Menezes, Zé Keti, Elton Medeiros.

Do sertão maranhense, trouxe a música do zangadíssimo João do Vale, coautor de Carcará e Sina de Caboclo. 

Com todos os olhos e ouvidos abertos para o novo, ao mesmo tempo fez-se pioneira em gravar compositores jovens e pouco conhecidos: Chico Buarque, Edu Lobo, Paulinho da Viola, Gilberto Gil, Torquato Neto, Capinan, Sidney Miller, Sueli Costa, Dori Caymmi, Jards Macalé, Francis Hime.


Nos quatro discos lançados em 1967 e 1969, parecia esboçar uma guinada de volta à velha tradição musical brasileira, gravando João de Barro, Ary Barroso, Lamartine Babo, Custódio Mesquita, Assis Valente, Dorival Caymmi. Era alarme falso: a ex-bossa novista que virara sambista de protesto estava prestes a se filiar às hostes da revolução comportamental chamada tropicália.




Rebeldia em negativo





O ímpeto da primeira década não voltaria a se repetir, mas ao longo dos anos 1970 ela se tornou uma revolucionária musical ao avesso, eloquente mais pela negação que pela afirmação. Abandonou a gravação de álbuns nos primeiros anos da nova década, e em 1972 foi atriz no filme Quando o Carnaval Chegar, contracenando com Chico Buarque e Maria Bethânia. 








                                    JOÃO E MARIA








Quando fez a letra de "João e Maria", o próprio Chico não entendeu o que ele tinha querido dizer com o verso "e o meu cavalo só falava inglês". Ele levou o enigma a Francis Hime, que arriscou: "Eu acho que é um cavalo muito educado."


"João e Maria" foi gravada pela cantora Nara Leão, lançada no álbum Os Meus Amigos São Um Barato, de 1977, que contou com a participação de Chico e Sivuca - o primeiro no dueto, o segundo tocando sanfona.


A canção acabou popularizada pela telenovela "Dancin' Days", da Rede Globo. No auge do sucesso de "João e Maria", que muita gente pensava ser apenas de Chico, Sivuca aproveitou uma série de shows que realizava no Rio para corrigir o equívoco: "a letra era do Chico, mas a música era dele há muito tempo".





                       COM AÇÚCAR COM AFETO


A música “Com Açúcar com Afeto”, um grande sucesso de Chico Buarque na voz de Nara Leão foi feita sob encomenda da própria cantora.Quem contou a história foi o compositor, em uma entrevista publicada no site http://www.chicobuarque.com.br/.


Ele confidenciou que a Nara lhe deu o tema com detalhes. “[...] Ela pediu: "Eu quero uma canção que fala que a mulher sofre, a mulher espera o marido etc. e tal. Eu fiz pra Nara e pro tema exato que ela pediu. Uma canção sob encomenda mesmo”.



Bendita encomenda. O pedido de Nara Leão proporcionou mais um grande clássico da MPB. O belo lamento, imaginado por Chico para atender sua amiga.

Com Açúcar, Com Afeto

Chico Buarque























Com Açúcar, Com Afeto

Chico Buarque



"Com açúcar, com afeto, fiz seu doce predileto
Pra você parar em casa, qual o quê!
Com seu terno mais bonito, você sai, não acredito
Quando diz que não se atrasa
Você diz que é um operário, vai em busca do salário
Pra poder me sustentar, qual o quê!
No caminho da oficina, há um bar em cada esquina
Pra você comemorar, sei lá o quê!
Sei que alguém vai sentar junto, você vai puxar assunto
Discutindo futebol
E ficar olhando as saias de quem vive pelas praias
Coloridas pelo sol
Vem a noite e mais um copo, sei que alegre ma non troppo
Você vai querer cantar
Na caixinha um novo amigo vai bater um samba antigo
Pra você rememorar
Quando a noite enfim lhe cansa, você vem feito criança
Pra chorar o meu perdão, qual o quê!
Diz pra eu não ficar sentida, diz que vai mudar de vida
Pra agradar meu coração
E ao lhe ver assim cansado, maltrapilho e maltratado
Ainda quis me aborrecer? Qual o quê!
Logo vou esquentar seu prato, dou um beijo em seu retrato
E abro os meus braços pra você."









[Em 1989 Nara fez sua última apresentação no Pará. Ao voltar para o Rio, sua saúde piorou e precisou ficar internada por meses, quando seu tumor cerebral rompeu, ocasionando uma hemorragia. A cantora faleceu na Casa de Saúde São José, no dia 7 de junho.]









"Nós aprendemos, Palavras duras, Como dizer perdi, perdi, Palavras Tontas, Essas palavras, Quem falou não está mais aqui

- Chico Buarque"

























("IN Último Segundo"
Leia tudo sobre: nara leão)





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