O fato das favelas estarem no coração da cidade, ao lado dos bairros de clássia média-alta, criou uma intimidade rara entre as duas realidades.
(Chico Buarque)
(Chico Buarque)
(In Show me Rio)
Morte de Um Poeta
Silêncio
Morreu um poeta no morro
Num velho barraco sem forro
Tem cheiro de choro no ar
Mas choro que tem bandolim e viola
Pois ele falou lá na escola
Que o samba não pode parar
Por isso meu povo no seu desalento
Começa a cantar samba lento
Que é jeito da gente rezar
E dizer que a dor doeu
Que o poeta adormeceu
Como um pássaro cantor
Quando vem no entardecer
Acho que nem é morrer
Silêncio
Mais um cavaquinho vadio
Ficou sem acordes, vazio
Deixado num canto de um bar
Maz dizem poeta que morre é semente
De samba que vem de repente
E nasce se a gente cantar
E dizer que a dor doeu
Que o poeta adormeceu
Como um pássaro cantor
Quando vem no entardecer
Acho que nem é morrer.
POETA NO MORRO
O poeta sobe o morro,
Com os passos de
Algum profeta esclerosado.
O poeta sobe o morro,
Como
dona-de-casa na feira,
Em dia de céu nublado.
O poeta sobe o morro,
Com o olhar de quem
Vai aplacar o tiroteio.
O poeta sobe o morro,
Enquanto os tiros descem
Pela rua do meio.
O poeta sobe o morro,
Com lápis e papel,
Mão no bolso, distraído.
O poeta sobe o morro,
Nem escuta o morador
Que implora socorro, num gemido.
O poeta sobe o morro,
Feito homem-bomba,
Que morre pelo que acredita viver.
O poeta sobe o morro,
Cabisbaixo, em descuido,
Nunca pensou se proteger.
O poeta sobe o morro,
Como vai à biblioteca
Outros poetas encontrar.
O poeta sobe o morro,
Por que não sabe onde ir,
Nem se tem algum lugar.
O poeta sobe o morro,
Do mesmo jeito que vive:
Folha seca ao vento.
O poeta sobe o morro,
Nem repara os olheiros,
Tampouco o armamento.
O poeta já não mais sobe o morro:
Tropeça, cai
Em silenciosa dor.
O poeta morre no morro,
Sem saber onde ia,
Sem grito de pavor.
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