Thursday, February 19, 2015

MORRO

O Rio corre na favela. Vem lá de cima das montanhas e infiltra-se nos morros, nas caleiras das casas amontoadas. Lava as mãos dos meninos que soltam suas pipas nas lajes e jogam cartas no chão da rua. Barra pesada, talvez, mas não mais pesada que outras barras que já foram carregadas noutros tempos tempos na cidade. É apenas barulhenta e descarada. Oferecida, sem pudor nem rodeios.

O fato das favelas estarem no coração da cidade, ao lado dos bairros de clássia média-alta, criou uma intimidade rara entre as duas realidades.

(Chico Buarque)
(In Show me Rio)


 Morte de Um Poeta

Silêncio





Morreu um poeta no morro

Num velho barraco sem forro

Tem cheiro de choro no ar

Mas choro que tem bandolim e viola

Pois ele falou lá na escola

Que o samba não pode parar


Por isso meu povo no seu desalento

Começa a cantar samba lento
Que é jeito da gente rezar

E dizer que a dor doeu

Que o poeta adormeceu

Como um pássaro cantor

Quando vem no entardecer

Acho que nem é morrer

Silêncio

Mais um cavaquinho vadio

Ficou sem acordes, vazio

Deixado num canto de um bar

Maz dizem poeta que morre é semente

De samba que vem de repente

E nasce se a gente cantar

E dizer que a dor doeu

Que o poeta adormeceu

Como um pássaro cantor

Quando vem no entardecer
Acho que nem é morrer.


POETA NO MORRO


O poeta sobe o morro,
Com os passos de 
Algum profeta esclerosado. 




O poeta sobe o morro, 

Como dona-de-casa na feira, 

Em dia de céu nublado. 



O poeta sobe o morro, 
Com o olhar de quem 
Vai aplacar o tiroteio. 

O poeta sobe o morro, 
Enquanto os tiros descem 
Pela rua do meio. 

O poeta sobe o morro, 
Com lápis e papel, 
Mão no bolso, distraído. 

O poeta sobe o morro, 
Nem escuta o morador 
Que implora socorro, num gemido. 

O poeta sobe o morro, 
Feito homem-bomba, 
Que morre pelo que acredita viver. 

O poeta sobe o morro, 
Cabisbaixo, em descuido, 
Nunca pensou se proteger. 

O poeta sobe o morro, 
Como vai à biblioteca 
Outros poetas encontrar. 

O poeta sobe o morro, 
Por que não sabe onde ir, 
Nem se tem algum lugar. 

O poeta sobe o morro, 
Do mesmo jeito que vive: 
Folha seca ao vento. 

O poeta sobe o morro, 
Nem repara os olheiros, 
Tampouco o armamento. 

O poeta já não mais sobe o morro: 
Tropeça, cai 
Em silenciosa dor. 

O poeta morre no morro, 
Sem saber onde ia, 
Sem grito de pavor.
(@DORA BRISA)

NOITE DO SUL




NOITE DO NORTE



Eu sou poeta lá do morro

E foi assim que Deus me fez


Cantando samba a noite inteira

Eu sou mais forte

Eu sou mais gente

Eu sou um rei
Eu sou a pura melodia
Que é feita de amor e alegria
Sou eu que enfeita a cidade
Com a poesia
Eu desço do morro pro asfalto
Malandro não tem salto alto
Eu desço pra ver, perceber
Muita gente não vê


























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